28 agosto 2009

Sapatos e Homens


Sabe, eu tô muito "precisada" de falar um monte, e liberar varias coisas que estão rodando na minha cabeça... Então vamos lá.


Esses dias, pelo Twitter, vi um tweet da @ladyrasta sobre uma propaganda de comemoração dos 30 anos da marca Melissa. E curiosa (eu particularmente gosto muito do trabalho da marca, acho super criativo) fui dar uma olhada no vídeo promocional... E me decepcionei de uma maneira que vou tentar descrever aqui.

Sabe o que é aquele amontoado de clichés machistas? Eu nunca vi tantos em uma propaganda só, e fiquei horrorizada com os comentários das pessoas, em sua maioria mulheres, dizendo que adoraram a produção, que acharam fofo, lindo, essas coisas... Já eu não achei nada legal.

O mote da propaganda é uma garota/mulher que conta um pouco da história da sua vida, e de suas amigas, através das Melissas. E começa com duas pequenas amigas que se adoravam, mas que brigam por causa de um garoto. Oi!? espera um pouco pois é forçar muito a barra, vocês não acham? Meninas na idade de 5, 6 anos, não brigam por conta de garotos, elas brigam com os garotos. Já não é suficiente a sexualização precoce que acontece hoje em dia, me vem uma propaganda dizer que basta um garoto entrar no meio e uma grande amizade entre meninas vai a ruína, por estarem disputando o amor do bofinho.
Começou mal, e mal vai prosseguindo, pois na adolescência, apesar da superação da briguinha da infância as rusgas por conta de bofinhos continua, e desta vez por causa de um carinha do intercâmbio. E por conta disso, nada de emprestar Melissa uma pra outra durante um mês.


Bem, quando eu penso que as coisas vão melhorar, pois as amigas entram na faculdade e agora - deduzi eu antes da hora - vamos falar de carreira, conquistas profissionais? Que nada! relevante mesmo foi uma tatuagem, carnaval na Bahia, comprar um carro e perder a virgindade... Pronto! Somos agora as garotas livres e descoladas (odeio essa gíria), temos carro pra ir pra balada (também odeio essa) e não temos virgindade que nos impeça de atrair os homens que estão muito a fim de dar umazinha com a gente... Eba! temos tudo o que sempre sonhamos... Mas na verdade não, pois o que as garotas da propaganda sonham, e esperam, para depois da faculdade não é um bom emprego, nem experiências edificantes, ou não, mas sim um maridinho.

Aí nessa hora a minha
paciência com a propaganda foi pro chão. Juro que se eu encontrasse esse publicitário ia perguntar o que diabos ele tem na cabeça pra fazer uma droga dessas.

Não, e o mais "legal" de tudo é que a maior sortuda das amigas é aquela que se casa logo com o primeiro pretendente. Ai que invejinha, pois ela "alcançou o apíce do desejo feminino" que é casar. Nessa hora me lembrei de uma declaração infeliz de um amigo meu, quando falou que as pedagogas só se formam para ser donas de casa inteligentes e cuidarem bem dos filhos. Uma grande piada sem graça, como essa propaganda.

No final de tudo a conclusão que eu tirei foi que a Melissa acha que a vida de uma mulher se reduz a sapatos e homens, não necessariamente nesta ordem. E se você garota quer arranjar o seu (sapato ou homem) não deve perder tempo , e ir correndo comprar a sua. Sem contar que nunca vi amigas tão superficiais, que se deixam abalar por qualquer pinto que atravesse o seu caminho. Sinceramente, eu pensava que já tínhamos evoluído o bastante para não ter que ver a personalidade feminina retratada de uma maneira tão desrespeitosa, vazia e cheia de clichés machistas, onde sempre temos que nos manter desejáveis e atraentes (dentro de um padrão muito duvidoso) aos olhos dos homens.

Mas quando eu vi os comentários das meninas dizendo que amaram a propaganda percebi que o problema não estava só na cabeça do publicitário idiota que pensou nisso, afinal ele só está fazendo o que a maioria faz. Só que ele, e todos os outros reveriam suas ideias em relação a mulher se nós, mulheres, e homens também por quê não, parássemos de achar esse tipo de coisa bonitinho só pelo fatos de ter sapatinhos de plástico fofos no meio.



21 junho 2009

Minhas Revoluções Culturais

O Daniel fez um post de mesmo titulo, lá no Razbliuto, e propôs aos seus leitores que fizessem o mesmo em seus respectivos blogs. E cá estou eu, a montar uma cronologia que se segue abaixo, com as minhas pretensas revoluções culturais.

1993 - Eu fiz em um único ano as duas etapas da educação infantil. Tinha cinco anos, e já sabia ler e escrever muito bem para a minha idade, então a professora decidiu que eu estava perdendo tempo ficando ali, e me adiantou, no meio do ano, para a
turminha do Infantil III. Lembro que a minha mãe ficou toda orgulhosa, as professoras me adoravam e os alunos me odiavam... Mas o mais legal era que na escola do meu irmão mais novo tinha uma biblioteca, e toda semana ele trazia um livro diferente pra mim. Também lembro de quando ia a casa da minha tia, que era professora, eu gostava de ficar lendo os livros da Marina Colasanti, ao invés de ir brincar com os outros.

1995 - Começo a frequentar a
APAE, para tratamento de crises de ansiedade. E aos sete anos tinha como grande passatempo ler bulas de remédio e analisar os índices do meu eletroencefalograma, além é claro dos gibis da turma da Mônica, que eu fazia a minha mãe comprar sempre íamos as consultas.
A minha medica dizia que eu era normal, só precisava ser criança. Também
conheci gente da minha idade com Síndrome de Down e Hiperatividade, aprendendo desde cedo que todo mundo pode ser diferente, e nem por isso deixa de ser normal. Também começo a usar óculos, o que virou outro inferno na minha vida, pois além de ser chamada de perna longa (sempre fui maior que os outros) passo também a ser chamada de quatro olhos. Os problemas de ansiedade não afetam o meu rendimento escolar, ou seja, ainda sou odiada.
Outra parte legal era assistir Cavaleiros do
Zodíaco todas as tardes, e juntar dinheiro para enriquecer o cara da banca de revista comprando a Herói para saber tudo sobre os episódios.

1997 - Saio da escola particular e começo a estudar em uma escola pública da periferia da cidade (Anjo da Guarda é periferia,
Carlos!?). Por conta da minha altura sou mandada pela professora a sentar no fundo da sala, a fim de não atrapalhar a visão dos demais. Comecei a conhecer uns tipos interessantes, e toda semana a gente tinha um evento para comentar, tipo que tio de Fulano levou uma facada, ou irmão de Sicrano tinha roubado uma casa, e aprendo aos oito anos que maconha não se cheira e sim se fuma, graças aos moleques da 8ª serie que levavam baseado pra fumar escondido na hora do recreio. Minha mãe me ensina a dar graças a Deus todos os dias por ter uma família estruturada, pois sou a única na sala de aula que não tem país separados. E apesar de conviver com uma realidade totalmente diferente da qual eu estava acostumada, o meu rendimento escolar continua bom, e sou mais odiada ainda por que além de estudar, tenho uma família legal( e a essas alturas isso já tava ficando chato).

2001 - Começo a me interessar mais por literatura e parto para os grandes Clássicos. Amava Shakespeare do fundo do meu coração, e também ganhei do meu pai os três tomos de As mil e uma noites, que me tomaram bastante o tempo. Também tinha em casa
vários volumes das Edições Vaga Lume.
Outro fato interessante foi o surto das
boy-bands, o que me tornou uma consumidora assídua de Revista Capricho e telespectadora da MTV. Mas como fui sempre única mulher no meio de três homens (irmãos) e vários homens (amigos) e uma prima doidinha que gostava de Legião Urbana, não tive como escapar de ouvir as coisas clássicas do Rock, como Beatles, Led Zeppelin, AC/DC, Nirvana... E pra ajudar uma amiga a conquistar um namorado, comecei a ouvir uma banda que o cara gostava, chamada Red Hot Cili Peppers. ela não consegui o namorado, mas eu ganhei uma banda pra gostar, tanto que eu desesperei quando eles vieram no Rock in Rio e eu ainda não era uma mulher assim, dona do meu nariz.

2002- Eu começo a perceber que, além de inteligente, eu estava criando uns atributos
físicos interessantes (tipo super peitos) e que isso me seria muito útil algum dia. Entro no ensino médio e percebo que os óculos foram essenciais para a formação da minha identidade. Ouço pela primeira vez a História da Revolução Russa, através de um professor entusiasta de Lenin, Marx e Trotski, e resolvo que vou ser de Esquerda e admirar o Socialismo até o fim da minha vida.

2004 - Me mudo com os meus pais para o
município de São João dos Patos, onde até então só ia passar ferias, e acho tudo uma droga. Na escola todo mundo me acha estranha pelo fato de eu andar de sandália de dedo e calça rasgada. Aprendo sotaque piaiuense, a dançar forró e a beber "maranhense" sem fazer cara feia. Começo amar o Chico Buarque, o Guimarães Rosa, leio Franz Kafka pela primeira vez, e começo a odiar o Paulo Coelho. Faço amizade com os tipos mais esquisitos da cidade, que atendem pelo nome de Markyran, Dowglas e Raul, e aprendo a tirar sarro da cara dos outros, normas técnicas de aviação, fofocar... E me torno cada vez pior.

2005- Depois de pensar em ser advogada,
designer, Professora de Literatura e Jornalista... Além de uma crise existencial que quase me fez desistir do vestibular, passo em ultimo lugar para o Curso de Pedagogia da UFMA. E ao entrar na universidade fico cada vez pior (na concepção da minha ), largo de ir a Igreja, entro para o Movimento Estudantil e, graças a esta experiência, me torno de vez a pessoa que todos conhecem hoje.
As minhas notas cairam (finalmente!), mas eu não me importei, pois não deveria deixar a vida academica atrapalhar a minha formação, o que no fim deu certo, já que mesmo não tendo o melhor coeficiente, andava aprendendo coisas muito mais uteis. Mais tarde compro o meu computador e começo a fazer o que eu mais gosto: baixar filmes, livros e músicas.

2007 - Entro na Plataforma Blogger e crio este blog que você lê no momento. Conheço um cara chamado Daniel, através do blog do
Dowglas, e começo uma relação muito vantajosa com ele, que me vende livros em francês a preço de banana. Sem falar nos momentos de notivagos no msn, falando besteira.
Conheço o
Professor Romildo Silva, meu futuro orientador, e arranjo além de alguém para admirar na Universidade, um grande amigo e colaborador. Faço parte da Organização do 27º Encontro nacional de Estudantes de Pedagogia, e tenho o meu primeiro esgotamento físico e mental, ficando de cama por semanas.

2008 - Viajo pelo interior do Maranhão em pesquisa sobre o fenomêno da Violência Sexual Infanto - Juvenil, através de um projeto do Governo Federal. Ando pelos municipios onde há bairros em que tudo falta, vou a povoados distantes e aprendo, na prática como as coisas funcionam por aqui. Percebendo de perto as causas que fazem do Maranhão o Estado mais pobre do Brasil. Tenho o meu segundo esgotamento físico e mental, não conseguindo pensar em nada durante dias.

2009- Vivo o que chamo de desespero
acadêmico, estudando e fazendo o meu trabalho de conclusão de curso. O que me tomou um pouco da minha vida pessoal.


19 junho 2009

Boas intenções com pessimas aplicações


Sinceramente, eu ainda não entendi onde todo mundo que está envolvido quer chegar com essa história de não obrigatoriedade de diploma para Jornalista.
Tudo bem que tem muita gente boa por aí, que escreve super bem e está muito melhor gabaritada para atuar no ramo do que certas pessoas que tem diploma na área. A exemplo de vários blogs e sites de mídia independente que transmitem as informações com com maior qualidade e de maneira mais aprofundada, se valendo de boas analises dos fatos, do que muitos meios do jornalismo dito "oficial" que você vê em grandes sites, e corporações de comunicação que possuem um grande alcance na sociedade. O que serve para ilustrar que certificações não são o suficiente para atestar que você é um bom profissional.
Já ouvi gente dizendo que essa medida vai melhorar e muito a liberdade de imprensa em nosso país, facilitando a distribuição de informação produzida de forma independente. E me desculpem, mas eu não vejo as coisas por essa ótica (otimismo em certos aspectos não é o meu forte). E há também a justificativa dada, se eu não me engano, pelo STF, de que o curso não necessita de diploma por não necessitar de habilidades tecnicas.
Como assim? Habilidades tecnicas... O que o STF entende por isso? Tudo bem que os cursos das áreas sociais e humanas são conhecidos por valorizar mais teoria do que a tecnica, mas ela não se extingue dentro da área, já que toda teoria necessita ser viável para ganhar o status de. Ou então o Gilmar Mendes acha que todo mundo já nasce sabendo fotografia, tecnicas de edição e tantas outras coisas que se aprende em varias cadeiras oferecidas no curso de comunicação, porquê se for assim essas habilidades ainda não se afloraram na minha pessoa. Quem sabe, se eu fizer uma forcinha, elas aflorarão subitamente. Mas se bem que ele comparou os Jornalistas com os Cozinheiros, só que até onde eu sei, tecnica é o que mais se precisa para estar dentro de uma cozinha.
Então, se for assim, daqui a pouco, cursos como Sociologia, Letras, Pedagogia, tão não terão diploma obrigatório. Afinal, como cursos das áreas humanas e sociais, a tecnica não é o mais importante, certo? Eu sei que tem muita gente achando isso tudo maravilhoso, e seria, se não vivessemos em um país chamado Brasil, onde atraso é o nome do meio.
O Daniel estava até comparando que, em países como a França, o diploma de jornalista não é mais obrigatório. Só que a França é a França mon ami! Vamos pensar em quanto tempo o jornalismo de lá levou para evoluir até chegar a este patamar em que certificações são dispensáveis. Sem contar que lá as pessoas compreendem que um jornal não deve apenas informar sobre o acontecimento de um fato, mas sim ser opinativo. E também tem a história que, não é qualquer um que vai sair por lá dizendo que é jornalista, já que não precisa de diploma. E tudo bem, eu sei que essa decisão não deveria impedir que uma pessoa que queira exercer a profissão de procurar a formação adequada para tanto. Só que aqui no Brasil o tiro vai sair pela culatra, pois, ao invés de abrir espaço para a mídia independente, irá apenas legitimar as merdas que a gente vê por aí na mídia "oficial". Por isso creio que a decisão, neste momento, foi equivocada pelo seguinte aspecto de que o Brasil precisava caminhar muito para chegar a este ponto. Pois a maioria das pessoas não tem consciência do que é Joralismo de verdade, já que os guetos (sim, a internet ainda é um gueto em nosso país) de midia independente não podem concorrer em pé de igualdade com a Globo e a Record da vida. E a nossa cultura é besta o suficiente para desvalorizar ainda mais o profissional, independente do que ele saiba e da qualidade do seu trabalho, só porque ele não tem um papel bobo, chamado diploma.

Pois é, como sempre lá fomos nós metendo (na minha opinião) os pés pelas mãos de novo. E se a luta por um jornalismo de qualidade já era bem árduo, agora mesmo é que os prifissionais serios do ramo, com diploma ou não, devem dormir de olhos abertos a fim de impedir que essa decisão se configure realmente em um retrocesso, dando mais poder ainda as grandes corporações de alcance maciço do público de decidir que faz ou não a noticia.